A província de Luanda apresenta necessidades diárias de cerca de 1,2 milhões de metros cúbicos de água, para uma capacidade real disponível, inferior a metade, de 516,582 metros cúbicos, informaram hoje as autoridades angolanas.
Os dados foram hoje disponibilizados durante uma reunião realizada entre o governo da província de Luanda e o Ministério da Energia e Águas de Angola, para análise da problemática do abastecimento de água potável.
O comunicado final da reunião refere que é “manifestamente insuficiente” a capacidade actual para suprir a demanda, apesar dos investimentos realizados pela Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL), para aumentar o número de ligações nos mais variados distritos da província capital, que tem cerca de sete milhões de habitantes.
A nota sublinha a existência de inúmeras localidades da província onde as populações recorrem ao consumo de água imprópria e a constatação de muitas das ligações recentemente implantadas não estarem a fornecer água devido às insuficiências no seu fornecimento.
Foi também constatada a existência de zonas com alta densidade populacional sem ligações domiciliárias e a captação e venda de água não tratada para a venda ilegal às populações, instituições e empresas.
Outro dos problemas identificados é a danificação constante de condutas para a realização de negócios de venda de água, um conluio entre populares e trabalhadores da EPAL.
No encontro, em que participaram o secretário de Estado das Águas, Luís Filipe, vice-governadores, administradores municipais e dos distritos urbanos, o presidente do conselho de administração da EPAL e responsáveis da área técnica, ficou concluído que o problema de captação e distribuição de água para Luanda só deverá estar quase totalmente resolvido em meados de 2020, quando os projectos Bita e Quilonga estiverem concluídos.
Entre várias recomendações, os participantes apontam a necessidade de a EPAL recorrer às instâncias superiores para o aumento dos seus recursos financeiros de modo a acelerar o incremento da capacidade de captação e tratamento da água.
Nesse sentido, o Governo Provincial de Luanda deverá em conjunto com o Ministério da Energia e Águas efectuar uma missão de bons ofícios junto das autoridades centrais para a apresentação do quadro actual de captação e distribuição de água na província, suas dificuldades, soluções e necessidades de recursos materiais e financeiros.
Maus em bom… português
Angola é, dos nove Estados lusófonos, o país com menor acesso a água potável “per capita”, em que apenas 44% da população a obtém facilmente, com Portugal (100%) e Brasil (97%) no pólo oposto, indicamos estudos da ONU. No que ao reino do MPLA respeita, tudo normal. Porque carga de chuva os 20 milhões de pobres precisarão de água potável?
Num relatório do Programa Conjunto de Monitorização das Nações Unidas, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), são analisadas as situações, até 2016, da água potável, saneamento e higiene em mais de 200 países e territórios.
O documento faz a comparação entre a evolução registada em cada um dos nove países lusófonos – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste – entre 2000 e 2015, tendo também em conta o respectivo aumento da população.
No quadro deste período, é referido também o aumento da população nas zonas urbanas, o acesso a água que dista mais de 30 minutos do local de residência, água não melhorada e água proveniente da superfície, como rios e lagos, entre outras fontes.
No acesso a água potável canalizada, Cabo Verde surge em terceiro lugar entre os lusófonos (subiu de 78% em 2000 para 86% em 2015), à frente de São Tomé e Príncipe (de 67% para 80% no mesmo período), Timor-Leste (não havia dados disponíveis em 2000, mas em 2015 tinha 70%), Guiné-Bissau (de 53% para 69%) e Moçambique (de 22% para 47%).
No mesmo período, Angola subiu de 38% para 41%, enquanto o Brasil passou dos 94% para 97% e Portugal de 99% para 100%.
O relatório sublinha que os dados são susceptíveis de alguma “relatividade”, tendo em conta o tamanho dos países, o total da população e o grau de desenvolvimento de cada um deles.
À excepção de Portugal (com 0% já em 2000) e Brasil (que baixou de 1% em 2000 para 0% em 2015), todos os restantes países lusófonos, em maior ou menor escala, ainda têm bolsas da população que só conseguem obter água a mais de 30 minutos do local de residência.
Angola, com 16% da população nessas circunstâncias ao longo do mesmo período, e Guiné Equatorial, que também continua com 2%, são os dois Estados lusófonos que mantiveram os números estatísticos entre 2000 e 2015.
Diferentes dados estatísticos, mas para pior, foram, no mesmo período, registados em São Tomé e Príncipe (de 13% para 15% da população), Moçambique (subiu de 5% para 14% da população) e na Guiné-Bissau (de 4% para 5%).
Cabo Verde desceu, em 15 anos, de 11% para 10% da população nessas circunstâncias, enquanto Timor-Leste, de que não existem dados de 2000, conta com 6% do total dos habitantes com a necessidade de ir buscar água a mais de 30 minutos dos locais de residência.
O estudo dá ainda conta da relação entre os dados estatísticos e a evolução da população urbana no mesmo período (2000 a 2015) nos nove Estados lusófonos, sempre em crescendo, com o Brasil a “liderar” esta tabela, com os habitantes citadinos a subirem, em 15 anos, de 81% para 86%.
Cabo Verde é o segundo país lusófono com maior crescimento da população urbana (aumentou, no mesmo período, de 53% para 66%), seguido por São Tomé e Príncipe (de 53% para 65%), Portugal (de 56% para 63%), Guiné-Bissau (de 37% para 49%), Angola (de 32% para 44%), Guiné Equatorial (de 39% para 40%), Timor-Leste (de 24% para 33%) e Moçambique (de 29% para 32%).
E no mundo tudo na mesma… ou pior
Cerca de 884 milhões de pessoas, maioritariamente na África Subsaariana, permanecem ainda sem acesso à água potável, reporta o mesmo relatório.
No relatório, é indicado que, em relação ao saneamento, apenas 2.900 milhões de pessoas (39% da população mundial) têm acesso a serviços sanitários seguros e com respectivo tratamento de esgotos, o que contrasta com os mais de 890 milhões de cidadãos que ainda, segundo o UNICEF e OMS, optam pela “defecação pública”.
Sobre os hábitos de higiene, sobretudo no que diz respeito ao acesso a água e sabão, as duas organizações lembram que apenas foi possível proceder a uma comparação de dados em 70 países (representando 30% da população mundial).
A situação mais grave acontece nos países em vias de desenvolvimento, sobretudo na África Subsaariana, em que, segundo o UNICEF e a OMS, 27% da população tem acesso a água e sabão, 26% debate-se com a falta de um desses produtos e 47% não tem qualquer possibilidade de obtê-los.
No documento, é referido que 2.100 milhões de pessoas (três em cada 10) ainda estão sem acesso a água potável em casa e mais de 4.200 milhões (seis em cada 10) não dispõem de saneamento nos locais de residência.
Segundo as duas organizações, uma das principais conclusões do estudo é a existência de um grande número da população mundial sem acesso a água potável, saneamento e higiene, significativamente mais nas zonas rurais do que nas urbanas.
“A água potável, saneamento e higiene em casa não deve ser um privilégio daqueles que são ricos ou que vivem nos centros urbanos. Estes são alguns dos requisitos mais básicos de que necessita a saúde da humanidade, pelo que todos os países têm a responsabilidade para os garantir a toda a população”, sublinhou, no relatório, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus,
O responsável da OMS lembra que, desde 2000, mais de 1.000 milhões de pessoas ganharam acesso a água potável e saneamento, salientando, porém, que ainda existem muitas casas, escolas e unidades de saúde sem sabão e água, o que leva à falta de práticas de higiene, havendo o risco de doenças, como diarreias, que afectam sobretudo as crianças.
A diarreia, lembra o UNICEF, mata todos os anos 361 mil crianças com menos de cinco anos, provocada pela falta de saneamento básico, água contaminada e pela transmissão de outras doenças, como a cólera, disenteria, hepatite A e febre tifóide.
“Água segura, saneamento efectivo e a higiene são críticos para a saúde de qualquer criança ou comunidade. À medida que melhorarmos estes serviços nas comunidades mais vulneráveis estaremos a dar-lhes uma hipótese mais justa para um amanhã melhor”, disse, por seu lado, o director executivo do UNICEF, Anthony Lake.
As metas contidas nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) das Nações Unidas até 2030, salientam as duas organizações, são claras e prevêem uma diminuição significativa das desigualdades nestas três áreas, algo que está em curso, mas que, em 90 países, decorre de forma “muito lenta”.
Se se garantirem maiores progressos nas três áreas, lembram a UNICEF e a OMS, haverá, até 2030, uma redução “significativa” do número de mortos e de doenças ligadas à inalação de produtos químicos e de ar, água e terra contaminados.
Tal permitirá uma redução importante nas taxas de mortalidade materna e de crianças até aos cinco anos.
Folha 8 com Lusa